domingo, 24 de abril de 2011

Passos


O Estrangeiro (Albert Camus) e Cem Sonetos de Amor (Pablo Neruda) são os livros que estão aqui na minha frente. Peguei-os com finalidades diferentes. O primeiro livro eu peguei, pois quero fazer uma releitura, achei o livro interessantíssimo e pretendo fazer ligações dele com a obra do Dyonélio. O segundo livro foi apenas por lazer, depois que li o primeiro poema do Neruda, volta e meia dou uma olhada na sua obra. A luz que vem ao encontro dos meus olhos, que estão fixados na tela do computador e o som dos meus dedos tocando no teclado, são minhas solitárias companhias. Absorvo-me em pensamentos. Lembranças de um futuro não vivido. Esperança de um passado melhor. Ausência do presente. Fugir. Penso em fugir muitas vezes. Por curiosidade apenas. Fugir para onde ninguém foi. Fugir para dentro de mim. Estranho, sou estrangeiro de mim mesmo, fazendo referência ao titulo do fantástico Camus. Queria abrir a janela agora e olhar o céu. Contar as estrelas até me perder e ficar por lá. Ou então queria pegar a bicicleta velha que está em algum canto atirada, e andar com ela como se fosse nova. Vou ir para o meu quarto. Espere um pouco. Acabei de olhar para trás e ver um álbum de fotos. Estou olhando, mas não reconheço quem é quem. Cadê? ... É passou. Não está mais aqui. Hoje mamãe morreu. Ou talvez, ontem, não sei bem. Comecei a ler e não terminei de escrever ainda. Calma Mersault já irei lê-lo. Onde estava mesmo?

Te amo como sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo diretamente sem problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és

tão perto que tua mão sobre meu peito é minha

tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Agora me perdi em um poema do Neruda. Poema XVII, vale à pena citar. Prometo não parar mais. Prometo para quem? Vou tomar o que restou desse vinho vagabundo, e tentar descobrir para quem que eu escrevo. Não vou perder tempo com isso. Vou escrever mais um pouco. Fez um barulho lá fora agora, mas não estou com vontade de ir ali, até porque já aconteceu. Deixa-me limpar os óculos, estava escrevendo com ele meio embaçado. Será que são os óculos que estão embaçados? Vou acreditar que sim. Acho que era alguém chutando uma pedra e caminhando ao mesmo tempo. Queria estar fazendo isso agora. Parece idiota, mas requer muita atenção fazer isso nesse horário. Está escuro já, e pelo o que eu imagino a pedra deve ser bem pequena, logo se torna complicado. Esse exercício faria eu caminhar pela rua escura sentindo a chuva, que está caindo agora, suavemente cair em meu corpo. Sensação de liberdade. Depois que chutasse pela ultima vez a pedra que insistia em fazer-me companhia, iria me deitar no chão, não importa aonde, e olharia para o céu. Faria isso até pegar no sono. Dormiria por ali mesmo, com o silêncio da noite e a companhia da pedra.