segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por no gra fia

Ver-te sobre
     a fresta
  da
   Janela aberta.


Seu vestido
       de veludo
    as alças
          caindo.


         Atentos
  meus olhos
           meus corpos
     teus olhos.


      Insinua-te,
sem vestido veludo
          pele macia,
   ao longe.


                À frente
da janela
   no teu corpo
         me situo.


  Sem vestido,
abrigo,
         sapato,
  meias.


           Ver-te sobre
       teus olhos
    brilhando
no escuro...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Metamorfose – O verdadeiro realismo está na deformação

A Metarmofose (O gigolô das palavras. Porto Alegre: L&PM, 1992, p.50-51) do escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo, é uma crônica que, de forma sutil, deixa transparecer a oposição entre o mundo interior e o mundo exterior da personagem, apresentando seus diversos conflitos. Com seu refinado humor, o autor consegue levar o leitor a uma série de reflexões necessárias acerca de temas marcantes do cotidiano.

A Crônica é escrita em terceira pessoa, fazendo com que suas palavras adquiram maior subjetividade, uma característica marcante do autor. Segundo Sá: a crônica – apesar de toda a sua aparente simplicidade – só pode ser valorizada quando a lemos criticamente, descobrindo a sua significação”. Fazendo uma análise crítica do texto A Metarmofose, constatamos em primeira instância o processo de humanização do animal, no caso a barata, com o narrador comparando o corpo e as ações feitas pela barata, com o corpo e as ações feitas pelo homem.

Uma questão relevante no presente texto é a diferença natural que há entre a barata e o humano, a capacidade de raciocinar, como é citado no segundo parágrafo: Pensar para ex-barata, era uma novidade. Antigamente, ela seguia seu instinto. Agora precisava raciocinar. O autor não quer mostrar que para barata é novidade pensar, mas sim, para o ser humano que, muitas vezes, age por instinto e não raciocina. Contudo, quando Veríssimo escreve: Difícil era ser gente. Mostrando-nos o quão difícil para o ser humano é lidar com os sentimentos e o pensamento, o que para as baratas não é preciso, pois elas agem por instinto, percebe-se que há um diálogo proposto. Pensar ou agir por instinto.

A partir da fixação de um nome o autor começa a desenvolver a personalidade e as características da personagem, levando em conta o processo de humanização da mesma. Utilizando o nome Vandirene e enquadrando a personagem na classe popular, nota-se uma crítica violenta, através de alegorias, recurso muito bem utilizado pelo mesmo, ao sistema capitalista.

Ao citar: será que o dinheiro vai dar? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho... Vandirene teve filhos. Lutou muito. Filas do INPS. Creches. Pouco Leite. O autor refaz a rotina de uma mulher tipicamente brasileira de classe baixa. Contudo, de uma forma provocante, o autor faz com que Vandirene ascenda socialmente: Finalmente, acertou na esportiva. Quase quatro milhões. Entre as baratas, ter ou não ter quatro milhões não faria diferença... Mas Vandirene mudou... Subiu de classe.

A mudança através da sorte representa uma das únicas possibilidades das pessoas, que se encontram no contexto social no qual a personagem está inserida, subirem de classe. A tentativa de dar uma ascensão a Vandirene, não é dar um final feliz para ela, mas sim ironizar o destino, inevitável, que ela vai ter: A redução de sua existência de uma forma lenta elaborando uma série de pequenas tentativas de sobrevivência e um jogo de estrutura labiríntica desenhado para a sua perda.

A angústia é desconhecida das baratas, pegando esse excerto do texto, no qual ele desenvolve o pensamento da barata em relação à morte, vemos que a barata já não é mais barata, é humano. Porém, vemos também essa “barata” como um ícone, do qual é preciso se livrar. No entanto, com um desfecho incrível, ele refaz o processo: Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado de novo numa barata. E faz da morte do ser humano o processo de animalização do mesmo, desencadeando o fim de todo um processo, consequentemente o fim da vida da personagem: Depois, desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava em mais nada. Era puro instinto. Morreu em cinco minutos, mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida.

Vê-se misturado o animal com o ser humano, e o ser humano preso ao animal. Fazendo uma intertextualidade brilhante com a obra de Franz Kafka, Veríssimo, mostra, assim como Kafka, que o verdadeiro realismo está na “deformação” (apud Merquior), com isso revela a sociedade como resultado do seu vazio. Fazendo referência ao “estranho”, utilizando o processo de metamorfose com a personagem. Um texto, mais uma vez genial, desse escritor que dispensa comentários.

domingo, 24 de abril de 2011

Passos


O Estrangeiro (Albert Camus) e Cem Sonetos de Amor (Pablo Neruda) são os livros que estão aqui na minha frente. Peguei-os com finalidades diferentes. O primeiro livro eu peguei, pois quero fazer uma releitura, achei o livro interessantíssimo e pretendo fazer ligações dele com a obra do Dyonélio. O segundo livro foi apenas por lazer, depois que li o primeiro poema do Neruda, volta e meia dou uma olhada na sua obra. A luz que vem ao encontro dos meus olhos, que estão fixados na tela do computador e o som dos meus dedos tocando no teclado, são minhas solitárias companhias. Absorvo-me em pensamentos. Lembranças de um futuro não vivido. Esperança de um passado melhor. Ausência do presente. Fugir. Penso em fugir muitas vezes. Por curiosidade apenas. Fugir para onde ninguém foi. Fugir para dentro de mim. Estranho, sou estrangeiro de mim mesmo, fazendo referência ao titulo do fantástico Camus. Queria abrir a janela agora e olhar o céu. Contar as estrelas até me perder e ficar por lá. Ou então queria pegar a bicicleta velha que está em algum canto atirada, e andar com ela como se fosse nova. Vou ir para o meu quarto. Espere um pouco. Acabei de olhar para trás e ver um álbum de fotos. Estou olhando, mas não reconheço quem é quem. Cadê? ... É passou. Não está mais aqui. Hoje mamãe morreu. Ou talvez, ontem, não sei bem. Comecei a ler e não terminei de escrever ainda. Calma Mersault já irei lê-lo. Onde estava mesmo?

Te amo como sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo diretamente sem problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és

tão perto que tua mão sobre meu peito é minha

tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Agora me perdi em um poema do Neruda. Poema XVII, vale à pena citar. Prometo não parar mais. Prometo para quem? Vou tomar o que restou desse vinho vagabundo, e tentar descobrir para quem que eu escrevo. Não vou perder tempo com isso. Vou escrever mais um pouco. Fez um barulho lá fora agora, mas não estou com vontade de ir ali, até porque já aconteceu. Deixa-me limpar os óculos, estava escrevendo com ele meio embaçado. Será que são os óculos que estão embaçados? Vou acreditar que sim. Acho que era alguém chutando uma pedra e caminhando ao mesmo tempo. Queria estar fazendo isso agora. Parece idiota, mas requer muita atenção fazer isso nesse horário. Está escuro já, e pelo o que eu imagino a pedra deve ser bem pequena, logo se torna complicado. Esse exercício faria eu caminhar pela rua escura sentindo a chuva, que está caindo agora, suavemente cair em meu corpo. Sensação de liberdade. Depois que chutasse pela ultima vez a pedra que insistia em fazer-me companhia, iria me deitar no chão, não importa aonde, e olharia para o céu. Faria isso até pegar no sono. Dormiria por ali mesmo, com o silêncio da noite e a companhia da pedra.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Somos Humanos


Somos pequenos.

Somos imperfeitos.

Somos incapazes.

Somos injustos.

Somos indiferentes.

Somos hipócritas.

Somos impessoais.

Somos o que não somos.

Poderíamos ser diferentes,

mas somos humanos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Marcado pelo tempo

Quando penso em reconstruir... escrevo. Um ato comum, mas incomum. Sem receio, sem medo. Liberdade de expressão , sinto-me livre. Ao escrever desvendo mais coisas de um mundo já conhecido, mas pouco visitado. No mínimo convidativo. Porém, andei por muito tempo, fugindo. Indo ao encontro do desencontro. Sinceramente, não sei dizer o porque. Talvez nessa confusão, acabei confundindo os caminhos. Dando o errado como certo, e o certo como errado. Nessa perda me encontrei. Não estivesse eu me perdido, talvez, dificilmente, teria me encontrado por inteiro. Apenas uma metade ilusória do que, provavelmente, eu sou. Finjo ser? Fui? Serei? Perguntas demonstram o quão misteriosa é essa caminhada. Ou corrida? afinal passa tão rápido. Um tempo que deixa marcas, marcas que se deixam no tempo. Marcado pelo tempo, nesse momento escrevo... tudo novo, ou melhor tudo de novo.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Alberto Coimbra Chaves, um eterno vencedor


Um guerreiro, um leão cheio de coragem, que representou muito bem o símbolo do câncer infantil. Em nenhum momento ele fraquejou, mas infelizmente a doença resistiu e venceu ele. Tinha muitos sonhos, e deixou um grande exemplo para todos, ele nos mostrou que a vida vale a pena. Vale a pena lutar por ela. Ele lutou até o ultimo suspiro. Deixou sua mensagem de amor, de força, de coragem, de luta. Estava sempre sorrindo, mesmo nas horas mais difíceis. Sempre acreditou muito em Deus. E agora está lá em cima do lado dele, nos observando. O mano, um menino de ouro. Quem o conheceu sabe que sua história é um grande exemplo de vida. É com muita dificuldade que escrevo isso agora, mas ele me disse: Mano escreve sobre mim um dia. E eu estou fazendo isso agora. Isso é apenas o começo, certamente escreverei mais coisas, mas no momento realmente está difícil, a dor é muito grande. Bom, meu leão está lá em cima e nos nossos corações. Alberto Coimbra Chaves, um eterno vencedor. Te amo muito meu irmão.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Apenas escrevo...


Sinto necessidade de escrever. Por muito tempo, ideias vinham em minha cabeça, mas não tinha coragem de botar no papel. Pensava: O que será que aconteceu com aquele menino que adorava escrever e ler? Não conseguia responder. Assim como fiquei um bom tempo sem escrever, fiquei muito tempo sem ler. Isso me cansava. Fiquei com medo de que ler e escrever fosse apenas uma fase, assim como muitas coisas são. Vem, mas vão. Acredito que tenha sido o ritmo de férias. Descanso total, para tudo e todos. Depois de um ano muito cansativo, dei-me o direito de parar um pouco, mas talvez tenha parado demais. Sei que quando escrevo, eu viajo, entro em mundos que desconheço, ou talves conheça tão bem que sei descrevê-los. Escrever para mim é terapia, é carinho, é necessidade. Pensei diversas vezes em escrever, mas sempre começava e nunca terminava. Mas eu vi que é bom não terminar um escrito, assim como não gostamos de dar ponto final nas coisas, eu não me sinto bem terminando um texto. Prefiro dar um tempo, assim como acontece nas relações amorosas. O tempo nas relações é um aviso prévio de que vai acabar. Creio eu que é muito covarde dar um tempo, mas não quero entrar no mérito da questão. Falar em tempo, o que seria o tempo? Para muitos o tempo é muito importante, para mim também é claro, mas eu não sei o que é o tempo. O tempo ora é bom, ora é ruim. Prefiro ir andando. Desde momento que me sentei aqui, não sei aonde quero chegar, continuo andando. Comecei com a ideia de escrever algo para mim mesmo e depois apagar, como faço sempre. Mas continuei escrevendo, e vou continuar. É um desabafo. Estou cansado de mascarar meus sentimentos, será que tenho que sempre demonstrar ser forte? Então porque faço isso? Porque a ilusão é boa às vezes, só que eu me esqueço que por trás dela tem a realidade. Meus pensamentos vêm e vão, as palavras vêm e vão, a vida vem e vai. Tudo, uma hora, vai ir. Tememos em partir, mas porque não encaramos de uma forma natural? Porque? Porque não fomos acostumados assim. Não digo que não devemos lutar. Como diria isso, se na minha própria casa tenho o exemplo do meu irmão. Que luta pela vida. Essa vida que muito dizem que não vale a pena. Meu irmão luta para poder ver um sorriso e poder dar mais um. Luta para poder ensinar e ser ensinado. Luta para poder ver a natureza e sentir-se visto por ela. Meu irmão luta, pois vê que a sua vida é digna de ser vivida. Eu escrevo, pois vejo na escrita uma forma de me expressar. Não consigo falar o que sinto, vejo, penso. Apenas escrevo...