quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Estava cada vez mais rápido, rodando, rodando, rodando.

Estava prestes a atravessar a cozinha da minha casa, ir até a porta e sair andando para aliviar a cabeça. Não imaginava que seria tão “fácil” mudar o rumo das coisas. Eu atravessei a cozinha, fui até a porta e sai. Andei sem norte. Olhei para o céu e pensei: Será que é para lá que irei? Não sei por que veio esse pensamento, mas quando veio não tive capacidade para responder. Não tinha encontrado a resposta para isso, e nem para minha outra pergunta. Qual o sentido da minha vida? Fiquei muito brabo por não saber responder, mas por mais que eu pensasse sabia que se respondesse na hora, estaria forçando uma resposta que não seria verdadeira. Continuei caminhando. Por entre os prédios, através das fumaças, fui me distanciando da cidade. Queria ir para um lugar tranquilo. Acabei entrando em um bar. Sei que não era um lugar tranquilo, mas uma bebida iria me fazer bem. Pedi uma dose de uísque, depois mais uma e mais uma... Até quase perder a consciência. O dono do bar pediu para eu me retirar. Fui cambaleando pelas ruas até um beco escuro. Lá ouvi vozes de crianças, pareciam estar felizes. Comecei a pensar na minha infância, não veio nada na minha cabeça. Tentei me levantar e fui me arrastando até o parque logo na saída do beco. Deitei-me na grama e pensei que estava acabado. Não tinha ninguém comigo, ninguém para apreciar meu fim. Até que uma linda flor cruzou meu olhar. Olhei para ela, como jamais olhei para uma mulher. Queria ir mais perto, cada vez mais perto. Quando a encostei cortei meus dedos. Não era uma flor, era uma garrafa pet com o fundo de uma garrafa de vidro dentro. Percebi então que estava alucinando. O sangue estava escorrendo pelos meus dedos, mas não senti necessidade de estancá-lo. Imaginei que seria um ótimo final, o sangue escorrendo até eu sair de mim. Comecei a sentir giros, estava tudo rodando. Estava cada vez mais rápido, rodando, rodando, rodando. A minha vida começou a girar na minha frente. Meus pais, amigos, casa, faculdade... Tudo começou a fazer sentido para mim. Peguei um papel e comecei a escrever. Minhas forças estão acabando. E s p e r o q u e a l g u é m l e i a.

Um comentário:

  1. Ótimo texto. A vida de todos roda ou rodará um dia desse jeito.

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